Eduardo de Rose fala sobre preocupações da Wada para Rio 2016
Diretor do departamento de doping do Comitê Olímpico Brasileiro, o médico Eduardo de Rose afirmou que a Agência Mundial Antidoping (Wada, em inglês) está preocupada com o controle das substâncias proibidas para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.
Em entrevista por email ao Terra, o também membro da Wada disse que a entidade esbarra em problemas na atualização de equipamentos, aperfeiçoamento de recursos humanos e, principalmente, na legislação brasileira para criar boas condições de exercer um bom trabalho nos Jogos do Rio.
De Rose comentou também que a Wada investe mais de R$ 16 milhões em pesquisas de novos métodos de detecção de substâncias proibidas e afirmou que o novo doping utilizado pelos atletas é o hormonal. No entanto, esse tipo de dopagem só é detectada com exames de sangue, método ainda pouco utilizado no Brasil.
Confira a entrevista na íntegra:
Terra: O que está sendo feito pela Wada para detectar as novas substâncias dopantes utilizadas pelos atletas?
Eduardo de Rose: A Wada aplica uma quantia equivalente a cerca de US$ 10 milhões (R$ 16,6 milhões) em pesquisas em novos métodos de detecção de substâncias proibidas, bem como no aperfeiçoamento de métodos atuais, além de contar com um excelente sistema de informação que rapidamente evidencia novas substâncias que eventualmente estão sendo usadas.
Terra: Quais são as "novas substâncias dopantes" que estão aparecendo no mundo dos esportes e que provocam temor para Londres 2012?
Eduardo de Rose: Eu poderia dizer que o doping moderno é o doping hormonal, principalmente com novas gerações de eritropoietina (EPO) e com o hormônio de crescimento, cuja detecção só pode ser feita por sangue no momento. Mas, estatisticamente, o doping mais usado continua sendo o anabólico esteróide.
Terra: Já existe algum trabalho sendo feito para Rio de Janeiro 2016?
Eduardo de Rose: A preocupação da Wada com o Brasil é, sobretudo, as dificuldades que enfrenta o LAB-DOP da UFRJ, o nosso laboratório credenciado, em seu espaço físico, na atualização dos equipamentos, no aperfeiçoamento de recursos humanos e, principalmente, com a legislação brasileira, que dificulta extremamente a aquisição de reagentes químicos e a importação de equipamentos, e também a passagem de urina e sangue para controle de doping por suas fronteiras. Na área de coleta de controles, deveremos melhorar, sobretudo no controle de doping sanguíneo, que não é tradição em nosso país.
Terra: Nos últimos anos, atletismo e natação, esportes que o Brasil tem tradição, tem tido alguns casos de doping. Por que isso acontece constantemente nesses esportes?
Eduardo de Rose: Muitos casos têm ocorrido no ciclismo também, bem como no futebol, no vôlei e na ginástica. Desde logo, é importante verificar o número feito pelos diversos esportes, e como incidência de resultados adversos é de cerca de 2% na área internacional, quem faz mais controles terá sempre mais positivos.
Terra: O que fazer para evitar que os atletas usem essas substâncias?
Eduardo de Rose: As ações mais importantes estão na área da educação e da instrução, e o Comitê Olímpico Brasileiro é bastante ativo nesta área, distribuindo um livreto na parte de ciência e antidopagem. Algumas confederações trazem esclarecimentos em suas páginas, assim como as Federações Internacionais e a Wada. Evidentemente, fazer controles é também importante, pois faz com que os atletas se cuidem mais e detecta a real situação desta área no País.
Terra: Nos casos de doping, quem é mais culpado, o atleta ou o treinador?
Eduardo de Rose: Cada caso é um caso, mas eu não penso que, hoje em dia, um atleta de ponta se dopa por sua conta, sem o conhecimento de seu treinador ou, eventualmente, de seus dirigentes. Um doping acidental, sem a intenção de fraudar, pode entretanto ocorrer por um erro só do atleta.
Terra: O que o caso da equipe Rede de Atletismo pode ter colaborado para o controle de doping no Brasil?
Eduardo de Rose: Eu esperava alguma ação do Ministério Público ou da Polícia Federal, uma vez que a substância que foi usada é basicamente encontrada em hospitais, particulares ou públicos, e que eu tenha conhecimento não houve nenhuma investigação para saber como a substância chegou aos atletas. A Interpol já demonstrou para a Wada que geralmente vamos encontrar em casos como este a ação do crime organizado no desvio desta substância de hospitais, principalmente os públicos, onde deveria estar sendo usada em pacientes renais crônicos.
Terra: O senhor foi um dos protagonistas no caso que baniu Rebeca Gusmão da natação. Como aquilo marcou a sua vida no esporte e se sente "vitorioso" por ter conseguido comprovar a culpa da atleta no Tribunal do Esporte?
Eduardo de Rose: Eu penso que quem baniu a Rebeca foi ela mesmo ao decidir usar substancias ilícitas. Eu apenas evidenciei o uso das mesmas em um dos três casos em que ela foi julgada. Ser as vezes criticado por um atleta por cumprir a minha função em casos de doping não me afeta em absoluto, e eu considero isto parte de meu trabalho. No momento, sem dúvida, pode ser difícil, mas com o passar do tempo a verdade sempre prevalece. Em termos de julgamento de ações pelos tribunais nacionais e internacionais, nos 40 anos que atuo nesta área, nunca perdi um caso. Creio ser importante neste sentido ter sempre a certeza absoluta da existência de uma infração antes de divulgar o fato.
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