Arnaldo Tirone pretende enxugar os gastos no Palmeiras
O futuro do Palmeiras mais uma vez em jogo: nesta quarta, cerca de 280 eleitores decidem qual será o sucessor do presidente Luiz Gonzaga Belluzzo pelos próximos dois anos. Belluzzo apoia Paulo Nobre, mas uma ala da atual direção está com Salvador Hugo Palaia. Esse quadro de racha dentro da situação é um indicativo do favoritismo que tem Arnaldo Tirone, homem que tem o corte de despesas como sua maior bandeira e possui gente muito forte dentro do Palestra Itália a seu lado.
Os três ex-vice presidentes palmeirenses vivos estão com Tirone: Carlos Bernardo Facchina Nunes, Afonso Della Monica e Mustafá Contursi, o maior aliado do candidato. Mustafá, que dirigiu o clube de 1993 até 2005, terminou sua gestão da mesma forma que seu pupilo pretende começar: cortando gastos. Outro com ele é Roberto Frizzo, que teve aproximadamente 40% dos votos na disputa com Belluzzo há dois anos. Se Tirone vencer, Frizzo será o 1º vice-presidente.
Assim como Mustafá, o consultor imobiliário Arnaldo Tirone é um obsessivo negociador por natureza: segundo ele próprio, cortar gastos e principalmente pagar sempre o menor possível em uma negociação são hábitos próprios. É a bandeira justamente oposta à administração de Belluzzo, que relevou o impacto de grandes quantias para ter quem bem entendesse. Para repatriar Valdívia, por exemplo, se avalia que tenha havido um gasto de R$ 20 milhões.
Para vencer a eleição, Tirone, 60 anos, também aposta na história dentro do clube. São mais de cinco décadas como sócio e mais de 30 anos como membro do Conselho. Seu pai, inclusive, foi diretor de futebol do Palmeiras no passado. "Eu frequentava a sala do presidente Mário Beni com sete anos", conta.
Confira a entrevista de Arnaldo Tirone na íntegra:
Terra - Que avaliação o senhor faz da gestão Belluzzo?
Arnaldo Tirone - O Belluzzo entrou com uma estratégia de contratar grandes treinadores e tentar trazer de volta ídolos que tinham sido negociados. No primeiro momento, a gente achou maravilhoso trazer o Valdivia, o Kléber e o Vagner Love, mas infelizmente a estratégia não deu certo e o Palmeiras saiu perdendo porque não conquistou título e a situação financeira se complicou muito.
Terra - De certa forma, o senhor concorda com o que foi feito?
Tirone - Me coloco no lugar dele. Fez uma tentativa, tinha um projeto e às vezes as coisas na prática não dão certo. Imaginou uma dinâmica para a direção do Palmeiras que na prática não deu certo e a torcida tem que fazer essa reflexão. Somos do Conselho Fiscal e temos que prezar pela parte financeira do clube. Ficamos chateados porque não se ganhou títulos nos últimos dois anos.
Terra - A divisão entre Paulo Nobre e Salvador Hugo Palaia foi favorável para o senhor? Como convive com o favoritismo?
Tirone - Essa colocação de favorito é colocada pelo apoio que tenho. Além de ser conselheiro com boa penetração e carisma junto ao conselho, tenho bom relacionamento com todos os conselheiros e isso me credencia a ser candidato. O apoio dos ex-presidentes é que dá essa ideia de que sou favorito. Acho que tenho condições, mas não quer dizer que eu seja. Me sinto com potencial para ser eleito.
Tirone se nega a reconhecer a grande vantagem que a divisão entre os dois candidatos que, de certa forma, representam a situação. Ainda assim, concorda que Palaia e Nobre pulverizam a votação.
Terra - Della Monica, Mustafá Contursi e Facchina: os três ex-presidentes vivos do Palmeiras apoiam o senhor. O que isso indica para o eleitorado?
Tirone - Me traz um grande orgulho ter o apoio dos três que já estiveram com a caneta na mão e sentaram na cadeira. Isso influencia, claro. Se a Dilma foi eleita é porque o Lula apoiou, ninguém a conhecia. Se constrói um grupo político com apoio. Não me lancei candidato, fui lançado e me condicionei. Me preparei para ser candidato e represento um grupo de conselheiros do clube. Não só do Mustafá. É do Della Monica também e do Facchina.
O candidato evita vincular seu nome ao de Mustafá Contursi, nome que provoca certa insatisfação entre os palmeirenses, ainda que tenha participação forte no Conselho. A ligação entre eles, porém, é muito forte.
Terra - Cortar os gastos é uma bandeira da sua candidatura?
Tirone - No momento, equilibrar os gastos é uma necessidade. Tem que recuar: é como tática de guerra. Você está indo para o campo de batalha, está perdendo a guerra, então você recua um pouco, dá uma organizada e vê uma estratégia para avançar.
Estamos perdendo a guerra contra o dinheiro, sem nada em caixa e com uma dívida. Não temos receita e temos que inventar. Para investir no futebol, que é nossa maior prioridade, tem que cortar o excesso de gordura. Nossa administração está inchada e há desequilíbrio.
Terra - Mustafá ficou muito marcado pela política do bom e barato. Como economizar e não fragilizar a equipe?
Tirone - Foi uma tentativa e naquele momento achei válida. O ex-presidente Mustafá e o Della Monica, que era vice-presidente, conquistaram 16 ou 17 títulos nessa gestão. A segunda divisão foi um episódio triste e complicado, mas o Palmeiras voltou logo ao primeiro escalão e a história do bom e barato foi uma estratégia do momento.
Terra - Quais os planos para o time de futebol?
Tirone - Sobre acertar time, o Palmeiras já tem um time. Precisa é de duas ou três peças para formar um time competitivo e esse é nosso intuito: fazer um time que chegue entre os primeiros. Ser campeão depende de um conjunto de fatores, como a sorte. O bom e barato foi tentativa de algum tempo atrás, mas muito caro e exagerado também não deu certo. Tem que rever toda essa gestão e tentar corrigir essas distorções.
Para evitar rejeição, Tirone não usa o termo demissão, mas avalia que o quadro de funcionários do clube está inchado. Segundo ele próprio, esse número cresceu de 468 para 700 com Belluzzo. Diminuir as despesas também deve passar por cortes caso ele seja eleito.
Terra - O senhor nega que tenha conversado com reforços e só pretende fazer isso caso seja eleito. Com qual velocidade vocês pretendem buscar jogadores?
Tirone - Se vencermos na quarta-feira, o primeiro passo é conversar com o Scolari. Se formos eleitos, é trabalhar em alta velocidade em todos os aspectos, mas não buscar jogadores de qualquer forma. O técnico tem a filosofia de trabalho dele e tem que dar tempo.
Terra - Está preocupado com a dívida do clube? O pretende fazer sobre a Arena?
Tirone - Espero que o valor da dívida não seja maior do que a que é divulgada, mas estamos preparados para algum tipo de surpresa. Sobre o estádio, vamos fiscalizar o que está sendo feito e cobrar o que está no contrato.
O grupo de Tirone já agiu para impedir o contrato que deu 30 anos de concessão da Arena Palestra para o grupo W Torre. O candidato usa esse exemplo para definir seu perfil de negociador: "sempre acho que posso pagar um pouco menos", diz. A intenção é que o prazo fosse de 15 anos. Sobre a dívida, a oposição alardeia valores em torno de R$ 130 milhões, mas pessoas próximas a Belluzzo falam que o valor não chega a R$ 100 mi.
Terra - O senhor tem falado que pretende reaproximar o Palmeiras com a Traffic. Já houve conversa da sua cúpula com a empresa?
Tirone - A Traffic em um primeiro momento foi bem agressiva, depois recuou. O dono (Jota Hawilla) é um palmeirense, homem bem sucedido e gosta do clube. Se estiver disposto a rever e continuar, vamos tentar entrar em acordo. O Palmeiras sempre teve boa intenção com a Traffic e espero que eles também vejam por esse prisma.
Se reaproximar da Traffic é estratégia para tentar ter jogadores do peso de Keirrison e Diego Souza, dois contratados pela empresa em outros momentos. Felipão já tentou esse acordo, mas só ganhou nomes de qualidade inferior: Fabrício, agora no Cruzeiro, e Rivaldo.
Terra - Como pretende se relacionar com torcedores organizados?
Tirone Estamos sempre abertos para a torcida que queira conversar. Temos endereço, sede social e diálogo aberto com qualquer tipo de torcedor. A gente tem que manter relacionamento bom com todos, inclusive com as organizadas.
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