Novo nº 1 do juvenil recebe dicas de "promessa que falhou"

A partir desta segunda-feira, o Brasil tem um novo tenista como número um do mundo no juvenil: Tiago Fernandes. O sucesso do País entre jovens até 18 anos, porém, não vem de hoje e começou a ser escrito com Marcelo Saliola, líder do ranking dessa categoria em 1987, mas cuja carreira não engrenou. Atualmente professor de tênis, o veterano, a pedido do Terra, deu conselhos para que o jovem possa ter sucesso também como profissional, repetindo histórias já construídas por Roger Federer, Ivan Lendl e Stefan Edberg.

Saliola entrou para a história do tênis mundial em 1988. Com apenas 14 anos e quatro meses, ele colocou seu nome no Guiness Book (Livro dos Recordes) ao se tornar o atleta mais jovem a somar pontos no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), uma marca que permanece insuperável. Em 1991, ainda obteve uma vitória muito expressiva, derrotando em Brasília o espanhol Emilio Sánchez, então número 12 do mundo em simples e um em duplas.

Embora um fenômeno quando muito jovem, o paulista não engrenou como profissional - sua melhor posição no ranking foi a 237ª -, encerrando precocemente a carreira, "saturado" com as fortes cobranças e exigências do esporte. Mais de 16 anos após desistir, ele vê Fernandes igualar uma de suas marcas e espera que o alagoano tenha muito mais sucesso.

"O menino tem talento e tudo pra se dar bem. Ele está em uma 'mão' certa", disse o ex-jogador ao Terra, em referência ao técnico do garoto, Larri Passos. O acompanhamento do tutor de Gustavo Kuerten é uma das principais vantagens de Tiago, 17 anos, na comparação com a condução de sua própria carreira, segundo Saliola.

Por ter aparecido na ATP muito cedo, Saliola lembra que nem ele, tampouco seus pais, treinadores, psicólogos e outros familiares e amigos próximos estavam preparados para encarar tamanha exposição.

"Se toda a minha equipe já tivesse tomado na cabeça com quatro ou cinco Marcelos Saliolas antes, pensariam que cobrar demais não dá certo e trabalhariam comigo de maneira diferente. Já o Larri criou uma bagagem tão grande que ele pode com propriedade conduzir um atleta de uma melhor forma", afirmou.

Por "melhor forma", entenda-se afastar ao máximo Fernandes da mídia e aliviar a pressão em cima dele, como fez o treinador quando não permitiu que seu pupilo recebesse um convite para a chave principal do Brasil Open, em fevereiro.

É importante também lembrar sempre ao garoto que ele "ainda não é ninguém". Para Saliola, esse "choque de realidade", quando vem muito de repente, é uma das principais causas pelas quais uma série de tenistas que brilharam na adolescência fracassaram quando adultos (leia "Liderar ranking juvenil não é garantia, lembra Saliola").

"O mais difícil é entender que no juvenil você ganha de todos até em nível mundial e quando muda para o profissional essa realidade não acontece. Então tem que aprender a lidar com a derrota, algo ao qual você não está acostumado, porque passou oito anos sendo o centro das atenções", analisou ele.

Redação Terra

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