Após terremoto, seleção do Haiti treina nos Estados Unidos

Na América do Norte, Haiti fará um amistoso com a Argentina e com o Cruzeiro Foto: AP

Sem campos de futebol em condições no país devastado, seleção do Haiti treina nos Estados Unidos

Depois de a seleção haitiana de futebol se cansar de comer carne de porco ou sorvete, e antes de voltar para sua cabine em um resort do Texas, nos Estados Unidos, o técnico colombiano Jairo Rios fez um pedido: queria barracas, para que muitos deles pudessem enviar ao Haiti. "Eu como bem aqui. Eu durmo bem aqui", disse o atacante Charles Harold Jr., que só fala francês e tem a ajuda de um tradutor. "Mas eu não posso ajudar meus amigos e familiares que não tem nada disso. É isso que não sai da minha cabeça."

Incapaz de jogar futebol na capital Porto Príncipe desde que um terremoto abalou o país em 12 de janeiro, matando cerca de 250 mil pessoas, a equipe haitiana está se hospedando no Texas até o amistoso com a Argentina, em 5 de maio. Os jogadores dizem que a vitória é extremamente necessária para melhorar o espírito do país, embora tenham consciência de que são "azarões" diante de um dos melhores times do mundo.

A viagem ao Texas foi organizada pelo grupo sem fins lucrativos San Antonio Sports, que está proporcionando o período de treinamento à federação do país devastado. Os jogadores, que dormiam nas ruas durante os últimos três meses, foram agraciados com muita carne e passeios em shopping centers.

No entanto, os jogadores ainda convivem com a culpa de suas condições relativamente melhores. O atacante Eliphene Cadet, de 29 anos, escapou de sua casa em Porto Príncipe após o teto desabar sobre ele e dois filhos. Deixar o Haiti significou deixar a família em uma barraca perto de onde ficava sua casa. Além dele, outros jogadores deixaram suas famílias em condições semelhantes.

"Todos os caras falam sobre isso", afirmou Cadet. "Existem ainda tremores agora, e essa é a nossa maior preocupação", completou. A seleção haitiana realmente teve sorte no terremoto, já que todos os membros da equipa nacional sobreviveram, incluindo aqueles cujas casas desmoronaram em cima deles. Em compensação, 32 corpos foram retirados dos escombros da sede de três andares da federação de futebol, incluindo treinadores e oficiais. O presidente Yves Jean-Bart foi um dos poucos que escaparam vivos.

Ainda assim, algumas famílias desabrigadas continuam acampadas no estádio nacional e em outros campos de futebol, todos em barracas improvisadas. Robert Jean-Bart, filho do presidente da federação de futebol, vive em Boston e disse que não há praticamente nenhum lugar do país em que se possa jogar futebol. Segundo ele, as famílias começaram a deixar o estádio apenas na semana passada e a federação está tentando agendar um jogo para agosto, mas depende da rapidez com que o gramado pode ser reparado.

Mesmo antes do terremoto, o Haiti já não havia se classificado para a Copa do Mundo. Atualmente, o país é apenas o 91º do ranking mundial da Fifa ¿ atrás da Islândia, mas acima de Gâmbia - e sua equipe nacional não joga uma partida oficial há quase um ano. Mas a partida contra a Argentina ¿ classificada em 9º lugar no ranking - será tão importante para os haitianos quanto um jogo de Copa do Mundo.

"No Haiti, as pessoas sempre perguntam quando vamos jogar com a Argentina. As pessoas acreditam que a gente vai fazer algo bom para o país", declarou o zagueiro Peter Germain. "Se ganharmos da Argentina, as pessoas finalmente começarão a ser felizes. Podemos fazer algo de positivo para este país", conclui.

Apesar do otimismo, os nervos haitianos ainda estão à flor da pele quando o assunto é terremoto. No voo da semana passada para San Antonio, uma turbulência deixou o grupo assustado. "Quando o avião tremeu, todos ficaram assustados", disse o assistente técnico Jean Roland Dartiguenave, que era dono de uma loja de telefonia celular, destruída pelo terremoto. "A turbulência os fez lembrar dos tremores", explicou.

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