Torcedor do Inter vaia, vibra e toca flauta na casa do rival

No dia em que tinha a torcida de cinco times que têm boas chances de título ou vaga na Libertadores - São Paulo, Flamengo, Atlético-MG, Cruzeiro e Internacional - o Grêmio recebeu em seu estádio um colorado, se não muitos. Rodrigo Ribeiro Sirangelo, advogado, 35 anos, foi ao Estádio Olímpico, segundo ele, para torcer contra o Palmeiras.

Colorado que é colorado até senta nas cadeiras do estádio da Azenha, mas chega atrasado. Depois de colocar o filho de dois anos para dormir, Rodrigo sai de casa sem pressa às 21h40. Morador do bairro Menino Deus, vizinho ao estádio, ainda arranja tempo para comprar cigarrilhas no caminho, que faz a pé.

O jogo está marcado para as 21h50. Chega ao estádio com 20 minutos do primeiro tempo, talvez para diminuir o desconforto de estar no terreno do maior rival do seu Inter. Ele nega. "Me sinto em casa. Aqui é o salão de festas da torcida colorada", diz, em tom muito baixo para manter-se incógnito, com medo de possíveis retaliações.

A íncrivel capacidade de se ver o que quer
Com o decorrer do jogo, Rodrigo começa a se soltar. Reclama do juiz em lance de impedimento prejudicando o Grêmio. Vaia o ataque do Palmeiras e decide: "são onze palmeirenses e onze vultos em campo".

Apesar da decisão, deixa escapar que enxerga um ou outro jogador tricolor. Em jogada pela esquerda, Douglas Costa passa para Lúcio que cruza. A bola vai em direção a Maxi López, que cabeceia com perigo para fora, arrancando um discreto 'Uh'.

Foco na arbitragem
Com dez minutos de Olímpico, o colorado Rodrigo parece ter encontrado o alvo de sua atenção. Se não dá para ignorar os azuis em campo, foca seus comentários no ábitro Heber Roberto Lopes. Acompanha os apupos da torcida "rival" e xinga o juiz.

Rodrigo acende uma cigarrilha e, aos 39mi, larga o pé da arbitragem. Cruzamento de Rochemback para a área do Palmeiras tem como destino a cabeça de Rafael Marques, que salta e enquadra o corpo para abrir o placar. "É só fazer", diz. O zagueiro cabeceia mal para o chão e a zaga afasta. Rodrigo parece não se importar muito com o desfecho do lance.

Os gols
No gol do Grêmio, marcado pelo mesmo Rafael Marques que havia perdido minutos antes no lance de cabeça, Rodrigo ensaia levantar da cadeira, mas desiste no meio do caminho e apenas sorri. A reação seria parecida no segundo gol do Grêmio, marcado por Maxi López no segundo tempo. Braços jogados para frente como quem vai levantar e a retranca providencial.

No momento do segundo gol, o Palmeiras já com dois jogadores expulsos por trocarem socos no intervalo, pergunto se ele já quer ir embora com o jogo praticamente decidido. "Capaz. Se eu saio agora, o pessoal aqui vai gritar que eu sou secador", diz.

Vaias ao time da casa e provocação
No segundo tempo da partida, Rodrigo está mais solto na casa do grande rival. Aos 13 minutos, após um cruzamento errado do meia Souza, a torcida ensaia algumas vaias. "Vou começar a vaiar agora, aproveitar a deixa".

O Palmeiras tem uma boa chance de gol, mesmo com dois jogadores a menos. É a deixa para vaiar todo o time do Grêmio a plenos pulmões. "Essa sem dúvida foi a melhor parte", provoca, para em seguida sugerir, "tira uma foto minha tampando o nariz". Inclina o corpo pra frente e faz um gesto discreto, como se coçasse o nariz.

Quando três torcedores levantam para ir embora, não perdoa, talvez para compensar a foto. "Já vai secador?", grita. Faltam três minutos para o fim do jogo e Rodrigo pergunta quanto tempo ainda tem, bocejando. Heber Roberto Lopes não dá um minuto de acréscimo.

Na saída do estádio, Rodrigo aponta um jovem com uma camiseta do São Paulo, líder do Brasileiro. Pergunto se não vai cumprimentá-lo. A resposta vem certeira: "não". A partida no Olímpico termina com um público de exatos 14.521 torcedores. Por coisas que só acontecem no futebol, esse 1 é colorado.

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