Tênis masculino vive era mais forte, veloz e competitiva

Roger Federer e Rafael Nadal lideram o tênis masculino como dois deuses gregos, se alternando nos títulos do Grand Slam e na atenção conquistada em todo o mundo. Mas isso poderia causar a injustificada impressão de que a temporada mundial da ATP consiste de Federer, Nadal e ninguém mais.

Para além da considerável estatura dos dois maiores jogadores de sua geração, os demais integrantes do grupo dos 10 mais continuam a ser um elenco perigoso e de talento profundo. Desde os dias de John McEnroe, Jimmy Connors, Stefan Edberg, Mats Wilander e Guillermo Vilas não havia tanto talento no pináculo do mercado do tênis masculino.

"Vivemos uma era de talento tão profundo quanto a do começo dos anos 80, no tênis masculino", disse Larry Stefanki, que é jogador profissional e técnico há 30 anos. "Nunca vi um elenco tão bom. Temos 10 jogadores lá capazes de disputar títulos a cada semana".

Considerem o caso de Andy Roddick, o mais recente pupilo de Stefanki. Perto do fim de sua temporada talvez mais consistente, Roddick duelou com Federer em Wimbledon, chegou às quartas de final em 11 dos 12 torneios que disputou e mudou a percepção de que sua carreira, um dia promissora, havia entrado em declínio.

Incluindo Roddick, seis jogadores venceram pelo menos 40 partidas este ano, entre os quais Novak Djokovic, que lidera a tour com 49 vitórias. Federer conseguiu 21 vitórias consecutivas até que fosse eliminado por Jo-Wilfried Tsonga, o sétimo colocado do ranking, nas quartas-de-final da Rogers Cup, sexta-feira.

Nadal também saiu derrotado nas quartas de final, diante de Juan Martín del Potro, mas lidera o ranking de torneios, com cinco títulos. Novas provas do talento disponível no topo do ranking surgiram no sábado, quando Andy Murray derrotou Tsonga na semifinal por dois sets a zero e conquistou a segunda posição que vinha sendo ocupada por Nadal.

O espanhol teve de parar durante 10 semanas recentemente para tratar uma tendinite do joelho. A última vez em que um jogador que não Federer ou Nadal ocupou uma das duas primeiras posições no ranking foi em 2005, com Lleyton Hewitt.

Nova prova surgiu quando Del Potro, que está abaixo do adversário no ranking, derrotou Roddick pela segunda vez na semana. As duas partidas foram longas e disputadas, e Roddick chegou a desperdiçar um match point.

Foram momentos como esses, partidas disputadas e frequentes entre os líderes do ranking que não se chamam Federer ou Nadal, que Stefanki e Roddick avaliaram um momento de tranquilidade no centro de lazer dos jogadores, esta semana. "São os mesmos sujeitos a cada semana", disse Roddick, segundo Stefanki, acrescentando que "nunca foi assim no passado".

A disputa do tênis masculino chegou a esse ponto por evolução natural, à medida que força e velocidade ganhavam importância, deixando de lado os atletas menos preparados fisicamente, mesmo que disponham de técnica superior. Stefanki afirmou que o tênis agora se parece cada vez mais com o tênis de mesa, com bolas rápidas cruzando a rede, forçando os espectadores a quase quebrar o pescoço para acompanhar as partidas.

Stefanki e Roddick assistiram a uma partida de 1979 entre Connors e Bjorn Borg, recentemente. "Tênis dinossauro", classificou o técnico, e ele não tinha a intenção de desrespeitar o passado.

Marian Vajda dedicou 26 anos ao tênis masculino profissional da ATP, dividindo o período igualmente entre as quadras e a posição de técnico. No momento, sua missão é a de ajudar no avanço do jogo de Djokovic, o qual na semana passada declarou ter nascido na era errada, no espaço ocupado por Federer e Nadal. Vajda tampouco viu profundidade tão grande de talentos, no passado.

"Quando se compara o tênis antigo ao atual, os jogos do passado são como que em câmera lenta", ele diz. "Não quero comparar com os anos 80, 90, o que seja. Não existe comparação".

Edberg assiste aos jogos atuais, e declarou em entrevista que eles exibem um esforço físico que não era tão evidente em sua carreira. Edberg destaca especialmente Nadal, os seus grunhidos e a maneira pela qual ele ataca a bola, com uma espécie de maldade, como prova de que o tênis moderno mudou.

Se combinarmos a essa potência a velocidade e atletismo dos profissionais, Federer diz que precisão ou jogadas de efeito já não bastam para vencer. "O talento já não é suficiente", disse Federer. "Estou falando de talento, digamos, nas mãos. Como o usado em bolas de efeito, toques sutis. Não quero dizer que isso bastasse no passado. Mas pelo menos permitia que um jogador conquistasse bastante destaque, e hoje já não é suficiente".

As mudanças no tênis moderno resultaram em exercícios físicos mais intensos entre os principais atletas, diz Stefanki, apontando para os sete quilos que Roddick emagreceu a fim de se tornar mais leve e ágil em quadra. Antes, Stefanki via os principais jogadores atuando como se usasse "viseiras", suas palavras, sempre isolados em suas bolhas pessoais. Mas agora precisam se adaptar se desejam competir.

"Para acompanhar os mais jovens, é preciso boa forma física e mental. De outra forma, um jogador é devorado. Porque a velocidade é fenomenal. E controlar a bola sutilmente, a essa velocidade, é um tanto fora da realidade", afirmou.

Isso ficou evidente no Masters de Montreal, onde os oito principais jogadores do ranking chegaram juntos às quartas de final pela primeira vez na história do esporte. E quando o fizeram, Federer (primeiro colocado) e Djokovic (quarto) foram derrotados por tenistas que ocupam posições inferiores no ranking, mas pouca gente definiria essas partidas como grandes zebras.

Muitos dos jogadores fizeram pausas antes ou depois de Wimbledon, por diversas razões, entre as quais o nascimento das filhas gêmeas de Federer e a tendinite no joelho de Nadal. Eles chegaram à Rogers Cup concentrados, descansados, e os resultados demonstram.

Vajda disse que preferiria que Djokovic pudesse ter uma partida fácil de vez em quando, especialmente nas rodadas iniciais ou nos torneios utilizados como preparativos para o Grand Slam. Mas o tenista discorda do técnico, afirmando que torneios como o Masters de Montreal na verdade oferecem a melhor oportunidade de preparação.

Desde que Roddick perdeu a final de Wimbledon para Federer, ele percebeu a maneira pela qual a atenção que ele recebe continuava a crescer, nos Estados Unidos: seu carteiro bateu à sua porta para oferecer conselhos não solicitados, e torcedores o abordaram em cafés para pedir autógrafos.

Técnicos e jogadores concordam em que o reforço das fileiras de elite do tênis e o talento concentrado entre os 10 mais são melhores do que uma rivalidade pessoal intensa seguida por perda de interesse, especialmente nos Estados Unidos.

Tendo isso em mente, o Aberto dos Estados Unidos começa dia 31 de agosto e Stefanki não conseguia esconder o entusiasmo, e falava de forma rápida e animada. Com o retorno de Nadal, a recuperação continuada de Roddick e a mais intensa concorrência que ele viu em duas décadas, Stefanki considera que o torneio apresenta imensas possibilidades.

"É impossível não perceber", ele diz. "Este Aberto dos Estados Unidos vai ser um dos melhores de todos os tempos, sem dúvida", encerra.

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